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Orí precisa reconhecer o sagrado, do contrário, nenhum rito surgirá efeito.

Atualizado: 16 de fev. de 2022


Candomblé, Umbanda, Kimbanda, entre outras, são vertentes com base na cultura religiosa africana. Isso significa dizer que os brasileiros que cultuam Òrìṣà precisam entender que a "tradição" que tanto discursam em preservar, é, de per si, viciada, posto que todas essas ramificações são frutos de modificações do culto africano original. Essas criações, ou seja, inovações, são as responsáveis pelo surgimento, se não, elas nunca existiriam: da invenção, remodelou-se às necessidades.


Logo, se tudo tem a mesma base, qual seja, a religiosidade africana, qual o ponto comum de qualquer dessas ramificações? Ora, que não estamos acima das decisões do Deus Supremo, e que quem reconhece o que é sagrado é o Orí (cabeça). Se o Orí do(a) devoto(a) de Òrìṣà não aceita dogmas ditos "tradicionais", como que aquele ato, aquele rito, poderá emergir o poder transformador na vida deste ọmọ (filho/filha)?


Meu Ilé Àṣẹ nasceu sem sacrifício animal, assim como eu, meus/minhas filhos(as) e outros(as) devotos(as) de Òrìṣà (também tenho, em minha casa, filhos/filhas que nasceram para o rito seguindo a dita tradição, mas que não encontraram a felicidade, paz de espírito e evolução que foram buscar quando optaram por cultuar a natureza). Outras casas também seguem essa mesma linha. Infelizmente vivem nas escondidas com medo da intolerância religiosa sofrida pelos próprios irmãos do àṣẹ.


E isso não deveria ser uma guerra, deveria ser respeitado! Assim como respeito quem ainda escolhe pelo ritual de sacrifício. Isso é totalmente cultural. Até porque sabem que ao invés de galinha, os antigos na África ofereciam seres humanos. Mudou-se! Na doutrina católica o filho de Deus foi sacrificado e antes ofereciam animais a Javé. Modificou-se, também.


Simples: Quem quer mudar, mude! Quem não quer, paciência e respeite. O foco aqui é o Orí abençoar o culto para que o Òrìṣà assim o possa também.

Um Orí bom, respeita a expressão de culto de seu semelhante, age com equilíbrio, com ecologia, com coerência, com transparência, com honestidade, com tolerância, e com amor.


Quando na diáspora o Òrìṣà foi trazido pra cá, tudo foi reformulado e adaptado: ìtàn (lendas) foram criadas para explicar os ritos dentro do Candomblé; Roupas remodeladas para tornar tudo mais bonito, chegando até a se afastar muito, em alguns casos, do original e da coesão, afinal não tem condição nenhuma de Ọ̀ṣọ́ọ̀sì ir caçar em solo africano em sua época com as roupas que o Brasil o veste hoje, por exemplo. Logo, sempre houve diversas modificações para adaptação do culto, então, por que há tanta insistência em dogmas e em, supostamente, querer preservar algo que se quer guarda mais qualquer liturgia com o original?


A religião tem o fito de religar o ser humano ao sagrado, atrair mudança para melhora do caráter, da índole, para que assim se consiga prosperar. É disso que se trata a base de tudo. Nenhum banho de folhas irá fazer milagre algum sem antes o ser humano não ter boas condutas na vida e com o seu próximo.


O culto de Òrìṣà é a filosofia milenar de cultuar a natureza, e não ofender Orí.

Não podemos tirar o direito dos veganos, vegetarianos ou até mesmo das pessoas que comem carne ainda, a ligação de seu Orí com o Òrìṣà da forma que entendem como sagrado o próprio culto. Não se trata de comer carne ou não. Trata-se de oferecer aos devotos uma opção real (feita da maneira orientada pelo próprio Òrìṣà Olórí e por Orí, através de Ifá), honesta e sensata de poderem se religar com a natureza, ancestrais e Òrìṣà sem ofenderem sua própria cabeça, sem corte animal, atendendo a premissa de que Òrìṣà é vida, e não morte.



Entenda. Não é o fiel quem dá àlàáfíà no obì e sim o Òrìṣà. Quem deve ou não dizer se aceita isso ou aquilo são eles! Simples assim.

Cabe a nós sacerdotes/sacerdotisas estudarmos meios e buscarmos soluções para assim termos de fato como levantar a bandeira da inclusão e respeito.


Não excluam, religuem!


O dábọ̀ àti mo dúpẹ́ ẹ!

(Até logo e agradeço!)


Por Bàbá Jonathan T´Ọ̀ṣun


Edição: Cristiane A.O.M. Camps

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