Os àwọn Òrìṣà são chamados de "encantados": porque não morrem, eles se encantam! Lindo isso, não é? Porem, o que exatamente isso quer dizer? Ora.... para entender é preciso conhecer suas histórias e estórias, além das lendas, para que se aprenda onde, como e porquê se encantaram.
Existem diversas lendas pra cada encantado, diversos nomes, e, assim, diferentes cultos pra cada um deles. Há encantados que não são cultuados no Brasil, mas são cultuados em continente africano, como por exemplo, o Òrìṣà da chuva, o Òrìṣà da estrela guia... estudiosos afirmam que existem mais de 401 (número que dá alusão para eles de algo infinito) divindades espalhadas no continente africano, entretanto, poucos chegaram e permaneceram aqui. É importante lembrar que cada Òrìṣà foi trazido para o Brasil pela nação onde era cultuado na África e o Brasil não recebeu africanos de todos as localidades.
Quando o Òrìṣà chegou ao Brasil, na diáspora, teve seu culto reinventado bem como suas vestimentas e alguns conceitos modificados. Pode-se afirmar, até, eles são mais "endeusados" do que na própria África, sua origem. Lá, são, em sua maioria, ancestrais divinizados, alguns por seus feitos históricos, outros por sua trajetória de vida e merecimento. Bem "parecido" com a santificação e canonização católica de seus santos. Porém não há no culto do Òrìṣà um "papa/madre", um sacerdote/sacerdotisa supremo(a) que organiza o culto.
Então, assim como no folclore e cultura de cada povo, uma lenda pode ser contada de diferentes formas. O que não tem como alterar é uma regra máxima: kò sí ewé, kò sí Òrìṣà!, que quer dizer, literalmente, sem folha, sem Òrìṣà! Eles são encantados na natureza! E o Amací, como chamamos na umbanda o banho de Santo ou àgbo, como chamamos no Candomblé, nada mais é que o banho dessas folhas. Diversos deles existem, pra variados fundamentos.
O mestre das folhas, é Ọ̀sányin, que com ajuda de seu servo Aronì, promove o culto dos encantados, dando a cada Òrìṣà suas folhas específicas pra resultados esperados e determinados. Ọ̀ṣọ́ọ̀sì é o senhor que cuida da mata, Ọ̀sányin também, mas outros àwọn Òrìṣà lá no Igbó, floresta/mata, também habitam. Ògún, por exemplo, é ofertado nas matas, por ser sua morada e ter o título de Chefe dos caçadores.
Na umbanda não se cultua Ọ̀sányin, o dono de todas as folhas, esse cargo fica sendo de Ọ̀ṣọ́ọ̀sì. Porem, uma vez que se aprende a origem do culto de Òrìṣà, creio que devemos fazer a inserção do mestre da medicina mágica (olóògùn), Ọ̀sányin, na Umbanda.
Ọ̀sányin é quem irá nos dar a folha e ativar seus poderes mediante a oríkì (invocação), àdúrà (reza) e orin (cantiga), próprias da "sassanha" (Asà Ọ̀sányin - nome ritual de preparação dos banhos de folhas). Porém, no candomblé a "sassanha" é tida como complexa, cheia de mistérios, etc. Onde na sua realidade é apenas, segundo a África, o culto a Ọ̀sányin, e o preparo das folhas, onde são entoadas cantigas para o mesmo no preparo do banho, sem ter complexidade, a não ser o conhecimento sobre o Òrìṣà e as variadas folhas.
O Amací, na umbanda, promove a ligação com sua espiritualidade e dá início ao desenvolvimento mediúnico. Eu, assim como muitos outros, fundamentamos a quartinha do médium nesse ritual, para que junto dele/dela seja sacralizado um objeto que o/a represente no culto. Dentro dessa quartinha há elementos como a água, fundamental por ser a fonte da vida, e uma pedra de rio, simbolizando sempre seu próprio corpo, orí (cabeça), etc.
Na umbanda que eu toco, essa quartinha e esse rito de amaci é a entrada na casa e no culto, o vínculo principal do(a) médium com o terreiro, sacerdotes/sacerdotisas, caboclos de Òrìṣà e entidades.
Após a consulta a ifá, no jogo de búzios, onde se é confirmado o Òrìṣà Olórí (dono/a da cabeça - Òrìṣà que rege aquele praticante da religião) e demais que o acompanham, é então marcado o dia do amací, o qual vem a ser realizado, após rituais também orientados por oráculos. Esses banhos são de limpeza e apaziguamento de Èṣù (Òrìṣà fiscalizador de ritual e organizador).
A umbanda em seu início (bem sei por estudo) não utilizava estas questões, mas tudo evolui e cada cabeça uma sentença. Não há como dizermos que tocamos uma umbanda original aqui, muitos terreiros também não tem como afirmarem isso, pois hoje há uma enorme derivação do conceito e fundamento umbandista, assim como candomblé e o próprio culto ao Òrìṣà comparado com sua raiz, África.
Mediante aos meus estudos formulo a seguinte teoria: mesmo em sua origem ritualística, cada encantado é tido como um ancestral divinizado por algo, em cada tribo isso altera, e cada povo, mesmo cultuando o mesmo encantado, tem seu próprio culto. Assim devemos respeitar a diferença cultural, senão seríamos arrogantes querendo ser os donos de uma verdade absoluta que muito provavelmente não existe.
Nenhum banho de folhas, em qualquer religião e doutrina, terá efeito abençoado se a pessoa não tiver uma boa conduta na vida. É preciso, além de entender sobre a arte mágica medicinal e a função de cada folha, que as atitudes do ser humano determinam o que o mesmo colherá.
A folha, a natureza, auxiliam o ser humano a se modificar para a melhor, porem é o Orí quem determina quais atitudes tomará nas mais variadas situações que a vida apresenta. A folha não muda o caráter de ninguém, ela ajuda o(a) devoto(a), o ser humano, a buscar uma consciência melhor e assim se modificar, acompanhado de filosofia e da ligação com o sagrado.
Para realizarmos um banho de folhas, o que parece simples, devemos aprender antes sobre os àwọn Òrìṣà e cada passo desse ritual. Para que o encantamento aconteça e que o verdadeiro àṣẹ seja extraído de maneira correta da natureza.
Existe uma cantiga que ensina a base desta simbologia que diz, na tradução: “quem precisa da arte de Ọ̀sányin, que caminhe até ele!” Neste caminho temos que dar conta dos protocolos e culto que envolvem Èṣù Òrìṣà, Ọ̀ṣun (pelo uso da água nos banhos), Ògún, Ọ̀ṣọ́ọ̀sì, entre outros. Não basta colher a folha, sair andando, por em uma panela e tomar junto com o seu sabonete de marca.
Banho de Òrìṣà se toma com água fresca para não esquentar o Orí. Banho de folhas se toma com elas encantadas e com tudo devidamente ofertado e verbalizado com o encantamento certo. Ervas secas misturadas que vendem por ai, não são encantadas e uma anula o poder da outra.
Ninguém dá calmante para uma pessoa muito calma. Ninguém da energético para uma pessoa muito agitada. Com as folhas e os banhos de Òrìṣà é a mesma coisa. O diagnostico tem que vir de forma correta por quem entende do assunto e cada folha tem seu poder curativo específico.
O dábọ̀ àti mo dúpẹ́ ẹ!
(Até logo e agradeço!)
Àṣẹ
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